terça-feira, 25 de setembro de 2007

Os mais aguardados!

Depois da estagnação que foi a época cinematográfica de Verão em Portugal chega a altura das grandes estreias do último terço do ano. Estes serão alguns dos mais aguardados. Deseja-se que a maioria deles ainda estreiem em 2007 nos nossos cinemas.
- "3:10 to Yuma": James Mangold ("Copland" e "Walk the Line") realiza este remake de um western clássico. Russell Crowe e Christian Bale são os protagonistas e a crítica norte-americana saudou efusivamente a perspectiva refrescante que este filme trouxe sobre um género dado como morto há muitos anos.
- "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford": Já que falamos de westerns aqui está o outro representante deste género para este ano. Uma elegia (mais de duas horas e meia de metragem) sobre a decadência do oeste americano e o fim da era dos míticos cowboys incorporada por Brad Pitt e por Casey Affleck. Será uma boa razão para rever o mítico "The Long Riders" de Walter Hill, também ele sobre o bando do histórico "outlaw" Jesse James.
- "Sicko": O agent provocateur Michael Moore lança mais umas farpas sobre a política dos EUA com uma análise corrosiva sobre sistema de saúde público do país, com George W. Bush no centro das críticas.
- "Into the wild": Para quem ainda não reparou Sean Penn, para além de um grande actor, é também um excepcional realizador. Para a sua quarta longa-metragem escolheu a história verídica de Christopher McCandless, um jovem de 22 anos que abandona a sua confortável vida para enveredar por uma aventura que o levou aos recantos mais selvagens dos Estados Unidos. Um reencontro com a tradição dos históricos exploradores e a descoberta dos párias que residem à margem da sociedade americana.
- "In the Valley of Elah": Tommy Lee Jones é o protagonista central neste drama intimista sobre a morte misteriosa de um jovem no Iraque e um pai que busca respostas onde ninguém lhas parece querer dar. Paul Haggis escreveu e realizou.
- "Eastern Promises": O regresso esperado de David Cronenberg acompanhado pelo repetente Viggo Mortensen ("Uma História de Violência"), Naomi Watts e Vincent Cassell. Relata a história de uma enfermeira que procura a verdade sobre uma jovem prostituta que, antes de morrer, deu á luz uma criança. Uma viagem "guiada" por um proeminente mafioso russo que a levará aos recantos mais sórdidos do crime organizado de Londres.
- "Lust, Caution": O filme com que Ang Lee arrebatou mais uma vez o Leão de Ouro em Veneza leva-nos até á década de 40 em Xangai. Uma jovem resistente chinesa envolve-se num complexo plano para assassinar um alto dignatário que colabora com os invasores japoneses. Para isso acaba por se envolver intimamente com ele, talvez demasiado para se manter indiferente.
- "Elizabeth: The Golden Age": Quem viu "Elizabeth" em 1998 e gostou (como é o meu caso) ficou com sede de uma sequela. Sehkhar Kapur teve finalmente luz verde para produzi-la com todas as estrelas originais. Contem por isso com Cate Blanchett e Geoffrey Rush, mas também com Clive Owen e Samantha Morton que vêm engrossar um elenco de luxo. Está prometida uma recriação da destruição da Armada Invencível de Espanha, pelo que se prevê novo festim visual.
- "Michael Clayton": George Clooney está de regresso aos thrillers, desta vez só como actor, para a história de um ex-advogado sem escrúpulos que faz o trabalho sujo de uma das maiores empresas legais de Nova Iorque. O seu sucesso só é igualado pelos fracasso na sua vida pessoal. Mas tudo vai mudar quando um caso aparentemente simples é sabotado e Michael Clayton é levado a repensar as suas estratégias para o trabalho e para a vida.
- "Reservation Road": Depois do sucesso crítico de "Hotel Ruanda" o realizador Terry George dirigiu este pungente drama sobre um advogado (Mark Ruffalo) que atropela mortalmente uma criança e foge. Os pais (Joaquin Phoenix e Jennifer Connelly) assistem ao acidente mas não reconhecem o condutor. Ruffalo enfrenta um enorme dilema moral que só vai aumentar quando a família da criança o contrata para tratar das questões legais do caso.
- "Gone Baby Gone": Os fracassos comerciais acumularam-se e desta vez Ben Affleck decidiu "esconder-se" atrás da câmara para realizar um muito prometedor policial onde conta com a colaboração de colossos como Morgan Freeman e Ed Harris, para além do seu irmão Casey Affleck. Esta história sobre o rapto de uma criança e as suas consequências devastadoras foi adaptada do livro de Dennis Lehane, cuja obra "Mystic River" já tinha sido adaptada ao cinema.
- "American Gangster": Todos aguardam a estreia do novo filme de Ridley Scott, que põe Denzel Washington e Russell Crowe frente-a-frente na Nova Iorque dos anos 70. Baseado na história real de Frank Lucas, um dos maiores criminosos da história de Manhattan, que construiu um império de crime traficando droga dentro dos caixões dos soldados americanos mortos no Vietnam que regressavam aos EUA. Uma grande aposta de Scott para as bilheteiras e para os Óscares.
- "Lions for Lambs": Um professor (Robert Redford), uma jornalista (Meryl Streep) e um congressista (Tom Cruise) vêm as suas vidas e carreiras afectadas pela investigação de um incidente que envolve soldados americanos no Afeganistão. Um filme com um tema actual e impactante, com Redford a ser responsável pela realização.
- "Beowulf": Recriação do épico heróico inglês totalmente feita em animação 3D. Robert Zemeckis regressa a esta tecnologia depois do surpreendente "Polar Express", desta vez com uma abordagem mais violenta e realista. Ray Winstone, Angelina Jolie, John Malkovich e Anthony Hopkins emprestam as suas aparência e vozes ao que promete ser um dos filmes do ano.

"Get busy living or get busy dying."


Reencontrei-me recentemente com esse clássico popular do cinema que é "Os Condenados de Shawshank" ("The Shawshank Redemption" no original). Popular hoje, porque na altura do seu lançamento nos cinemas em 1994 não chamou a atenção de muitos, mesmo apesar das sete nomeações para os óscares. O mítico VHS viria a redimir esta obra-prima, transformando-a numa das mais compradas e alugadas entre o mercado do vídeo caseiro. Hoje surge legitimamente nas listas dos melhores filmes de sempre tanto da crítica como do público.
O realizador Frank Darabont jogou e forma sábia com o tempo e a longa extensão do filme permite uma reflexão aprofundada sobre os temas da liberdade física e espiritual. Tim Robbins e especialmente Morgan Freeman incorporam duas personagens quase dicotómicas, o primeiro um inocente aprisionado que se recusa a ser institucionalizado, o último é o paradigma do "homem da prisão", sábio nas negociatas típicas entre os encarcerados e nas regras não escritas que regulam aquele universo fechado. Mais do que um simples bom filme "Os Condenados de Shawshank" é uma experiência de vida, qualquer sinopse ou definição são demasiado redutoras para explanar o ataque sensorial e espiritual que nos atinge ao vê-lo. A direcção de Darabont é precisa e bela, mas a banda sonora de Thomas Newman desempenha aqui um papel essencial. Os tons melancólicos e introspectivos do piano e das cordas (violino e violoncelo) sublinham o etéreo deste filme onde toda a crueldade do mundo prisional se desvanece face à vitória do espírito. E essa a ideia essencial, a única verbalizável talvez, com que ficamos. É um filme fortíssimo, deixa-nos absortos nos conceitos e na estética impecável, mas ressoa também num nível superior. Mais uma obra que mostra que é possível ser-se popular na forma, mas profundo e complexo no conteúdo. A ver sem reservas e por todos, principalmente para aqueles que esqueceram o prazer de ver CINEMA.