segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ainda Blade Runner


Em complemento ao post publicado anteriormente deixo aqui mais alguma informação sobre a edição definitiva de "Blade Runner". Estará disponível em três edições distintas, uma com dois discos, outra de quatro discos e a mais completa com cinco discos, todas disponíveis em formato DVD, mas também em HD-DVD e Blu-Ray. A data de lançamento prevista no Reino Unido é 3 de Dezembro, pelo que os mais impacientes poderão já fazer a sua pré-reserva em sites como a Amazon britânica. Para já não existe uma data prevista para o lançamento em Portugal.
Como se pode verificar na imagem acima apresentada, para além dos cinco discos, a edição europeia irá conter também um conjunto de oito fotografias de coleccionador, um fotograma do filme em película e uma carta pessoal assinada pelo realizador Ridley Scott.



Trailer do Final Cut de "Blade Runner", montagem final de Ridley Scott
que está a ter apresentações limitadas em cinemas dos EUA e em alguns
festivais europeus e que será lançada em DVD no final de 2007.


Mais uma vez os fãs europeus ficam a perder em relação aos norte-americanos já que naquele mercado será disponibilizada, a partir de 18 de Dezembro, uma edição ainda mais completa que inclui também um unicórnio em origami (réplica daquele que Deckard encontra no final do filme) e um spinner (veículo voador da polícia) em miniatura. Tudo isto embalado numa mala metálica exclusiva, em edição limitada e numerada, que está também disponível para pré-reserva em lojas como a Amazon dos Estados Unidos.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Blade Runner - 25 anos depois

Depois de décadas de versões diversas em VHS, Laserdisc e DVD de "Blade Runner", chega finalmente a edição definitiva deste clássico da ficção-científica. Foi um difícil percurso com um quarto de século que culmina agora numa gloriosa celebração para uma obra-prima nem sempre consensual, mas cuja influência artística e social não pode ser negada.
Fruto de um processo de produção tortuoso, marcado por conflitos entre o realizador Ridley Scott e os financiadores, mas também por atritos com os próprios actores e equipa técnica (ficaram famosas as discussões com o protagonista Harrison Ford), "Blade Runner" acabou por ser lançado nos cinemas numa versão profundamente alterada em relação às pretensões dos seus criadores. Depois de um test screening onde os espectadores pareceram ficar confusos com o que viram os produtores, numa tentativa de clarificar a narrativa, ordenaram a inclusão de segmentos de voice over exageradamente explicativos, para além de um final feliz forçado. Lançado nos cinemas norte-americanos no Verão de 1982, o filme foi esmagado pela crítica e o público, ainda imbuído no espírito caloroso e familiar do recém-lançado "E.T. O Extraterrestre", acabou por ignorá-lo.
Nos anos que se seguiram o florescente mercado de VHS viria a ressuscitar "Blade Runner", convertendo-o naquele que será, muito provalvelmente, o primeiro filme de culto. Entre fanzines criados por apaixonados seguidores e as extensas discussões que se seguiriam na ainda jovem internet, nascia um fenómeno à escala mundial onde todos tinham interpretações diversas para os inúmeros elementos narrativos e estéticos da obra. Tudo culminaria, numa primeira fase, no relançamento do filme numa versão Director's Cut - esta denominação é um pouco abusiva já que Ridley Scott apenas permitiu que o filme fosse remontado segundo as suas instruções, sem contar contudo com o seu empenho directo e pessoal - onde para além da remoção da já referida voice over e do inane happy ending, foi acrescentada a já mítica visão de um unicórnio por parte da personagem central Rick Deckard, que reabriu a discussão sobre se ele seria um humano ou um replicant.
Volvidos então 25 anos, após longas negociações para que a Warner Home Video pudesse voltar a deter os direitos de comercialização do filme, surge agora a versão final assinada pelo realizador britânico (denominada Final Cut), onde revertem todos os elementos cuja inclusão estava inicialmente prevista. Para englobar este momento único para todos os fãs (onde orgulhosalmente me incluo) foram criadas nada menos que três edições distintas, que vão da mais simples com 2 DVD, passando por uma intermédia com 4 discos e a mais desejada com 5 DVD, que inclui por seu turno cinco versões do filme.




Trailer do extenso documentário "Dangerous Days" que reflecte
sobre todo o processo de produção do filme e que marcará presença
nesta nova edição, ocupando todo o segundo DVD.

Sem entrar em demasiados pormenores sobre cada uma das edições fixemo-nos apenas na mais completa. No primeiro DVD teremos o Final Cut do filme, acompanhado de diversos comentários áudio gravados por Ridley Scott, Hampton Fancher e David Peoples (argumentistas), Syd Mead (responsável de forma fulcral por todo o design visual) e Douglas Trumbull (genial técnico dos efeitos visuais) entre outros. No segundo disco teremos um documentário de 3 horas e meia, intitulado "Dangerous Days" (ver trailer acima), com a participação de mais de 80 intervenientes directos e indirectos na produção de "Blade Runner" e na interpretação de todo o fenómeno cultural que o sucedeu. O terceiro DVD contém três versões distintas do filme, a montagem original norte-americana (1982), a versão internacional (1982) que inclui algumas breves sequências de acção e violência não mostradas nos cinemas dos EUA e ainda o já famoso Director's Cut (1992), que lança a controvérsia sobre a real natureza de Rick Deckard. Para o quarto DVD a Warner Home Video seleccionou um conjunto de pequenas featurettes da época com entrevistas e sequências cortadas nunca antes vistas, destacando-se uma série de conversas com Philip K. Dick (autor do romance "Do Androids Dream of Electric Sheep" que esteve na origem do filme) e as galerias com esboços usados na concepção cénica. O quinto e último disco, um bónus apenas para aqueles que adquirirem a edição mais completa, traz-nos a Workprint de "Blade Runner" (numa tradução literal será a "versão de trabalho" utilizada geralmente para as primeiras sessões públicas ou test screenings dos filmes) que se apresenta como a mais radicalmente diferente jamais vista, incluindo uma nova sequência de abertura, uma banda sonora alternativa e diálogos não utilizados nas montagens posteriores. Certamente uma relíquia a ver e preservar por todos os seguidores do filme, mas também uma excepcional oportunidade para revelar este momento magistral de cinema a toda uma geração que só lhe terá conhecido os "herdeiros", toda uma panóplia de obras que beberam inspiração neste monumento criativo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Os melhores "Prison Movies"

Depois do texto sobre "Os Condenados de Shawshank" publicado na abertura deste blog surgiu a sugestão para que fizesse um top ten dos melhores filmes passados em prisões. Como qualquer lista do género são sempre muitos os que ficam de fora, quer por falta de "espaço" na lista ou simplesmente porque nunca os vi. Aí está a lista dos dez melhores a que já assisti sem nenhuma ordenação especial.
- "Os Condenados de Shawshank" ("The Shawshank Redemption", 1994): Foi devido a este filme que esta lista nasceu e assim surge, com mérito, referido entre ela. É um filme de prisão porque a sua acção decorre no interior duma, mas a reflexão moral e de vida que o perpassa são maiores do que "aqueles muros de pedra" que assomam sobre os prisioneiros. Para mais algumas ideias leia-se o post anterior publicado neste blog.
- "O Buraco" ("Le Trou", 1960): Este filme quase desconhecido representou o adeus do realizador francês Jacques Becker ao cinema e à vida (faleceu pouco depois de o terminar). Mas despediu-se com uma obra-prima magistral, de um rigor fílmico enorme e onde nada é deixado de parte. Cinco homens encerrados numa cela exígua planeiam fugir da prisão. Os árduos trabalhos de escavação e limpeza são retratados de forma quase documental, sentimos o enorme esforço físico e, mais relevante ainda, as tensões psicológicas entre personagens cujo passado desconhecemos e das quais, também por isso, desconfiamos. O plano é quase perfeito e só uma traição poderá denunciá-lo. A ver sem restrições.
- "Papillon" ("Papillon", 1973): Baseando-se na obra homónima e autobiográfica de Henri Charriére, o realizador Franklin J. Schaffner transporta-nos para a Ilha do Diabo, uma das mais horríveis colónias penais francesas. Um criminoso menor (Steve McQueen) é condenado a cumprir pena naquela prisão da Guiana Francesa por, supostamente, ter assassinado um proxeneta. Lá irá conhecer Louis Dega (interpretação magnífica de Dustin Hoffman) e envolver-se, ao longo de vários anos, numa série de tentativas de fuga impressionantes. Uma crónica impactante sobre a persistência do espírito humano face ao terror e ao horror de um inferno prisional.
- "Os Fugitivos de Alcatraz" ("Escape from Alcatraz", 1979): Filme soberbo, entre o rol de colaborações de excepção entre o realizador Don Siegel e o actor Clint Eastwood, "Os Fugitivos de Alcatraz" transcorre no espaço da mais mítica prisão do mundo. Alimentado pelo seu ódio contra o regime brutal e desumano imposto pelo director da cadeia (Patrick McGoohan), Eastwood desenvolve um engenhoso plano que culminará com uma espectacular fuga e o encerramento de Alcatraz. Evitando alguns dos clichés do género, Don Siegel centrou-se no essencial (uma perspectiva rigorosa herdada dos realizadores franceses), revelando cada passo do esquema num crescendo de sensações e construindo thriller calculista e fascinante.
- "A grande evasão" ("The Great Escape", 1963): A história real de um campo de prisioneiros de guerra durante a II Guerra Mundial é trazida à vida por John Sturges neste genial épico de aventura e tensão. Apoiando-se num colossal ensemble de actores (Steve McQueen, Richard Attenborough, James Garner, James Coburn e Charles Bronson, apenas para destacar alguns) cria o relato humano de um dos mais arrojados planos de fuga jamais criados, capaz de despertar os mais rasgados sorrisos e também a mais profunda comoção. São quase três horas de entretenimento puro, generosamente complementado pela rica composição musical de Elmer Bernstein, que sublinha o delicioso humor de algumas personagens, mas também a tragédia que as envolve.
- "Fugiu um Condenado à Morte" ("Un Condamné à Mort C'Est Echappé", 1956): Esta será talvez a obra menos hermética e inacessível do mestre gaulês Robert Bresson e, simultaneamente, um dos melhores exemplos da forma contida e, podemos dizê-lo, minimalista como realizava. E esse estilo adequa-se na perfeição ao tema de um homem desesperado que tenta fugir de uma quase inexpugnável prisão nazi. Tudo é reduzido ao essencial: o isolamento contínuo da personagem central vai ampliando a urgência de uma solução e do desfecho que se antevê. O resto é o mais puro suspense, ancorado na crueza com que Bresson enfoca esta narrativa quase muda (poucos diálogos e quase nenhuma música), sublimando as suas próprias experiências pessoais durante a II Grande Guerra.
- "A Ponte sobre o Rio Kwai" ("The Bridge on the River Kwai", 1957): Se existiu alguém capaz de filmar uma história tão grandiosa como esta, essa pessoa foi David Lean. Mestre total do Épico (o E maíusculo não é acidente), Lean inflou este relato de um grupo de militares ingleses encarcerados num campo de prisioneiros japonês com uma dimensão humana e visual raramente atingidas e só superadas no seu "Lawrence da Arábia". Alec Guinness lidera estoicamente o seu pelotão nos faraónicos trabalhos de construção de uma ponte, apertado pela pressão do tempo, incorporada no Coronel Saito (excelente Sessue Hayakawa). Paralelamente desenvolve-se uma missão quase suicida para a destruição da mesma, liderada por um relutante ex-prisioneiro americano (William Holden). Talvez a maior metáfora cinematográfica jamais criada sobre a loucura e futilidade da guerra. Incontornável.
- "Gulag" ("Gulag", 1985): Uma pequena delícia este thriller criado directamente para TV. Um engenheiro de televisão (David Keith) vê-se envolvido num obscuro esquema do KGB que termina com a sua prisão num gulag siberiano. Desesperado pela sentença de 10 anos a que foi condenado, decide então fugir contando com a colaboração de um cínico espião britânico (Malcolm McDowell). "Gulag" evoca os fantasmas esquecidos da guerra fria e da forma como o ocidente via o mundo obscuro que se escondia por detrás da cortina de ferro. McDowell, um dos actores mais desaproveitados dos últimos 30 anos, oferece-nos mais uma grande actuação.
- "Stallone: Prisioneiro" ("Lock Up", 1989): Certamente o filme menos consensual desta lista, mas também um dos melhores exemplos daquilo que o típico prison movie deve ser. É inegável que muitas das obras deste género que se produziram depois, como "O Último Castelo", foram fortemente influenciadas por este esforço imperfeito do realizador John Flynn. Sylvester Stallone interpreta um simpático prisioneiro, condenado por um crime menor, cuja pena está prestes a terminar. Aí surge Donald Sutherland, interpretando um sádico director de prisão que moveu influências para levar Stallone para o seu "inferno". Por entre alguns lugares-comuns e personagens estereotipadas, este filme vence sobretudo pela forma sincera como aborda a temática prisional e remete-se simplesmente à categoria de filme que representa: excelente entretenimento.
- "O Expresso da Meia-Noite" ("The Midnight Express", 1978): Fecha-se esta lista com um dos incontornáveis clássicos do filme de prisões, um doloroso relato escrito por Oliver Stone e realizado por Alan Parker. Um turista americano (Brad Davis) decide arriscar tudo ao tentar transportar uma grande quatidade de droga para a Turquia. O sistema legal do país decide fazer dele um exemplo e condena-o a 30 anos no terror de uma prisão de condições indescritíveis. Longe de casa, alienado por um mundo indiferente e imensamente cruel, a única solução será apanhar o "expresso da meia-noite", nome dado ali às tentativas de fuga da prisão. Com esta obra Alan Parker, indo beber à tradição iniciada por "Papillon", elevou a fasquia no que toca à representação da loucura destilada no ambiente prisional e da imensa violência que o atravessa.