quinta-feira, 22 de maio de 2008

Indiana Jones e o Reino das Cabeças Ocas

Estreou finalmente um dos filmes mais aguardados dos últimos anos, o novo episódio de uma saga mítica. Mítica pelo seu colossal sucesso junto do público, mas também pelo elevado nível de qualidade que a colocou no topo do cinema de aventuras. No seu melhor momento, com "Salteadores da Arca Perdida", Steven Spielberg revelou-se como um realizador com o talento raro para combinar a acção mais espectacular (e inacreditável) com uma narrativa sólida, feita de grandes personagens e diálogos que homenageavam a época de ouro do cinema de Hollywood. Foi por tudo isto que me tornei num fã de Indiana Jones e foi carregado dessa emoção e expectativa que entrei na sala de cinema para assistir a este novo filme.
No final, fazendo um balanço sincero, percebe-se que nada correu bem e que talvez melhor seria se nos tivessemos ficado por uma trilogia. Sendo curto e directo, desde um argumento perfeitamente risível e incompetente, que demonstra total despeito pelos capítulos anteriores da saga, passando por uma realização amorfa, bem longe do que Spielberg nos habituou, este "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" salda-se num rotundo fracasso. Harrison Ford esforça-se por fazer o melhor que pode com as paupérrimas frases que lhe deram, mostrando contudo que ainda tem fulgor suficiente para interpretar a personagem que imortalizou. Cate Blanchett fica na memória como exemplo de uma grande actriz num papel hediondo. Se quiserem uma boa femme fatale é melhor relembrarem a Dra. Elsa Schneider (excelentemente interpretada por Alison Doody) de "Indiana Jones e a Grande Cruzada". Como companheiro de aventuras Indy tem o "wild one" Shia LaBeouf, cuja personagem Mutt acaba por ser o menos mau do filme, e o escorregadio Mac (Ray Winstone), que constará como mais uma referência a reter no campo das personagens para esquecer. Surgem ainda a saudosa Marion Ravenwood e o recém-integrado Dr. Harold Oxley, interpretados respectivamente por por Karen Allen e John Hurt, cujas passagens pelo filme oscilam entre o desnecessário da primeira e o ridículo do segundo.
Digno de menção é também o excesso no recurso aos efeitos especiais digitais, que contribuem de forma decisiva para despir cenas fulcrais de qualquer autenticidade (a longa sequência de perseguição na selva aproxima-se mais ao mundo dos videojogos que ao do cinema). Até no capítulo da música o mestre John Williams pareceu desinspirado, repetindo variações sobre alguns dos temas que marcaram os filmes anteriores, faltando a vibrante originalidade que é imagem de marca deste compositor. Em suma, todo este "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" é fracasso, apresentando-se como uma sofrível soma de escabrosas e despropositadas sequências de acção, sem um fio condutor que as una eficientemente, sem um esgar dos maravilhosos diálogos que nos arrancavam sorrisos, nem sequer uma sombra do fascinante mistério que nos colava à cadeira. Não se interprete este texto como um manifesto saudosista, mas sim como uma exaltação daquilo que caracterizou uma saga e que agora parece ter sido posto de lado em função de critérios estéticos e narrativos duvidosos. É verdade que os anos passaram, que o cinema mudou e com ele os seus espectadores. Pena é que a mudança tenha sido para pior, pelo menos para o nosso Indiana Jones.

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